Não sabe de nada: Castello reafirma estratégia de desmonte da Petrobrás

No último dia 10 de junho, o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara, reafirmou a estratégia da companhia de reforçar a presença na exploração de petróleo e reduzir os ativos em outros segmentos.

Na comissão, Castello afirmou que a companhia precisa investir tempo e dinheiro em atividades que oferecem maior retorno financeiro, como a exploração de petróleo em águas profundas. “Vamos focar no que somos melhor, que é exploração em águas profundas”, disse aos deputados. Ora, o preposto do mercado esquece ou faz questão de negar que a Petrobrás sempre supriu e continua a suprir de derivados o mercado brasileiro. Com base em que, este presidente indicado afirma que somos bons somente em E&P?

Ao argumentar que a atividade de exploração é a que oferece maior retorno ao caixa da empresa, Castello Branco lembrou que a companhia concluiu a venda da TAG, de transporte de gás, cujo retorno seria de 7%. “Podemos obter mais com o pré-sal”, disse. E a concorrÊncia também , inclusive, cobrando da própria Petrobrás.

O senhor que preside a Petrobrás desconhece ou finge que não entende que a indústria de O&G trabalha integrada, inclusive, porque os lucros no refino e distribuição viabilizam os negócios em épocas de baixa no barril de petróleo, enquanto que o retorno do E&P torna-se mais relevante quando a cotação do barril aumenta.

Então, comemorar a venda da TAG é outra forma deste “gestor” demonstrar ignorância no segmento de O&G. A rede de gasodutos do Sudeste (NTS) já foi vendida, e com a venda também da malha norte-nordeste, a população e a Petrobrás ficarão a mercê de monopólios privados, pois serão clientes cativos das duas malhas, com mais de 90% de utilização. Negócio sem riscos, com rentabilidade garantida e possibilidade de ganhos muito maiores, pois não há alternativa para a estatal escoar a crescente produção de gás do Pré-Sal, que apresenta elevada relação gás-óleo (RGO).

Por fim, se o presidente da Petrobrás entendesse do segmento e tivesse compromisso com a empresa, estaria empenhado em mantê-la como uma empresa de energia, integrada, presente nos segmentos petroquímico, de biocombustíveis e fertilizantes, como vêm fazendo as concorrentes multinacionais.

Estratégia suicida

Castello Branco avalia que a Petrobras não está desmontando as operações, pois os planos de vender ativos compõem uma estratégia de gestão de portfólio. Aos deputados, Castello Branco explicou que, dos US$ 105 bilhões previstos em investimentos nos próximos anos, cerca de US$ 90 bilhões serão destinados, exclusivamente, à área de E&P. O executivo deu como exemplo o plano do governo de entregar alguns ativos do segmento de refino.

Isso mostra claramente que a estratégia adotada é suicida. Considerando ainda que as refinarias postas à venda têm um mercado garantido e apresentam bons resultados operacionais e financeiros, é escandaloso desfazer-se de qualquer percentual delas. A empresa perderá receita e a venda não é justificável financeiramente para a petroleira, especialmente diante das transformações graduais que se impõe ao setor de O&G. Como se não bastasse, o negócio envolve ativos da Transpetro, suas redes de dutos e terminais associados às atividades dessas refinarias, o que tornam o negócio ainda pior do ponto de vista financeiro, pois a Transpetro também perderá receita, além de criar regiões com monopólios privados de toda a infraestrutura de refino e escoamento de petróleo e derivados.

Já na terça-feira (18), o entreguista Castello Branco reafirmou intenção de “abrir caminho” para a entrada da iniciativa privada no mercado de gás brasileiro. Na avaliação do “chefão” da Petrobrás, o monopólio do setor não trouxe benefícios nem para a sociedade nem para própria empresa. “O gás é um negócio onde a Petrobrás tem praticamente um monopólio em todas as fases. Isso não se traduziu em nenhum benefício tanto para a sociedade como para a empresa monopolista. Vamos abrir caminho para que a iniciativa privada e investidores privados se juntem a nós, eu não gosto de solidão nos mercados, gosto de companhia”, disse.

Não custa lembrar que o setor de gás natural pode ser divido em três segmentos: produção, transporte e distribuição. No segmento da produção, o mercado já é extremamente competitivo desde a Lei nº 9.478/1997, que extinguiu o monopólio estatal. Em termos de transporte e distribuição, por que, em todos estes anos, os privados não investiram um centavo de real no modal dutoviário? Por que só a Petrobrás investiu e desenvolveu todo o mercado de gás que temos hoje, e que querem entregar?

Sr. Castello Branco, graças ao dito “monopólio” da Petrobrás, o Brasil conta com o insumo gás a preços viáveis, ao contrário do que se verifica nos países produtores que abriram totalmente o mercado aos privados, sem forte investimento estatal, e que veem seus recursos serem majoritariamente destinados à exportação.

A perda de espaço da Petrobrás, no , apenas tende a aumentar a tarifa de transporte a partir dos custos e margens de lucro dos compradores com atuação desintegrada. Para a estatal, os gasodutos já estavam amortizados ou mais próximos da amortização. Os compradores terão que recuperar seus custos de capital na compra das participações da Petrobrás e esses custos serão repassados para as tarifas. É preciso desenhar?

Igualmente, cabe à ANP regular as tarifas de transporte e o livre acesso. Dessa forma, se existe problema é por causa da ineficiência do órgão regulador federal. Qual a sugestão do Sr. Castello Branco? Privatizar totalmente a ANP ou fatiar a Agência para privatizações parciais?

O “Febeapá” na Petrobrás

Roberto Castello Branco lembrou que cerca de 98% da capacidade de refino do Brasil, atualmente, está nas mãos da Petrobrás, mas a distribuição dos segmentos pode “ser melhorada”. “Temos 98% do refino, mas só uma unidade produz combustível de aviação”, afirmou. Incrível, diante desta oportunidade, por que as concorrentes não se puseram a concorrer?

Diante disso cabe mais uma pergunta: que tipo de capitalismo é este que o economista Castello Branco defende, o qual sacrifica a Petrobrás à custa de privados que não quiseram investir no refino?

Em continuidade ao seu “Febeapá” (Festival de Besteiras que Assola o País), Roberto Castello Branco, disse que houve falha da companhia na distribuição de gasolina de aviação para aeroportos de todo o país nos últimos dias. Ora, o presidente existe e é muito bem remunerado para não deixar esse tipo de situação acontecer. Então não seria o caso de saber quanto o recebeu no PRVE? Está se premiando a incompetência na Petrobrás? Que contradição Castello!

Ainda, na audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, Castello reconheceu que o incidente foi sério e que não pode se repetir “de forma nenhuma”. “A refinaria tem que sofrer reparos, como é natural em qualquer instalação industrial. Então, há um processo de importação que pode não funcionar. Houve um problema de logística e as aeronaves ficam simplesmente sem combustível. Isso não se verificaria se nós tivéssemos competição no Brasil. A Petrobrás certamente não seria o único fornecedor de gasolina de aviação e não ficaríamos na dependência de uma única refinaria”, disse. “Lamentavelmente isso ocorreu, o que me deixou muito aborrecido e chateado”. Tadinho…

E como funcionou ao longo destes anos? Qual o problema de fato, má administração ou um monopólio que legalmente não existe?

A mídia especializada diz que a Petrobras confirmou que as atividades na Refinaria Presidente Bernardes-Cubatão (RPBC), localizada em Cubatão (SP), estão paralisadas e têm previsão de retorno apenas em dezembro deste ano. A unidade é a única no país que produz gasolina de aviação e abastece aviões de pequeno porte. Por conta dessa “manutenção”, a Petrobrás está tendo que importar esse tipo de combustível para abastecer o mercado interno. “A Unidade de Gasolina de Aviação da Refinaria Presidente Bernardes-Cubatão (RPBC) encontra-se em parada programada para manutenção e melhorias operacionais e tem previsão de retorno em dezembro de 2019. Enquanto a unidade estiver em manutenção, a companhia está suprindo o mercado por meio de importações. A Petrobrás informa que desembarcou uma nova carga de gasolina de aviação em Santos-SP e o produto já está sendo distribuído”, diz comunicado. Nem em uma oportunidade dessas a concorrência vem concorrer?

A lorota dos preços dos combustíveis

Castello Branco disse que a companhia já fez esforços no sentido de reduzir o preço dos combustíveis aos consumidores. Na mesma Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, ele disse que o que era possível de se fazer “já foi feito”. Castello Branco disse que a Petrobrás reduziu a frequência de reajustes aos combustíveis, que chegou a ser diária na gestão do ex-presidente da Petrobras Pedro Parente. Castello Branco afirmou que a Petrobrás “pouco pode fazer” para melhorar a situação dos caminhoneiros.

A solução é simples: acabar com a política de preços baseada na paridade de importação, substuindo-a por uma política coerente com a realidade nacional, ainda assim capaz de garantir lucro os investimentos da Petrobrás, os empregos e o desenvolvimento do país.

Sr. Castello, um desmoronamento, a cada “argumento”. Pede pra sair!

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