Vários são os relatos também sobre o assédio dentro das plataformas. Efetivos médios de 200 homens para menos de 10 mulheres embarcados simultaneamente, com apenas um camarote feminino; clima opressor, de desconforto; homens assobiando para mulheres na área industrial; isolamento do convívio social, mulheres andando sempre em grupo no período de descanso; preocupação constante em utilizar roupas largas, mesmo de folga.

E situações ainda mais graves como homem entrando em camarote feminino mexendo nas calcinhas das mulheres. Alguns blogs narram casos de assédio com supervisores propondo relação sexual com mulheres, se aproveitando da posição profissional.

A falta de Equipamentos de Proteção Individual em modelos e tamanhos adequados ao corpo feminino, também é apontada pelas embarcadas: uniformes, luvas, óculos, capacete e outros acessórios de tamanhos maiores geram maior desconforto e insegurança para realização de manobras operacionais.

Outro ponto negativo é a inexistência de banheiro feminino nas áreas operacionais, ou apenas um banheiro, muito distante do local de trabalho. A degradação e/ou falta de manutenção dos equipamentos industriais também afeta as mulheres, principalmente nas plataformas antigas, que não possuem muito automatismo. Esse é um item que prejudica também aos homens, por ser difícil manobrar válvulas pesadas e emperradas. Mas para as mulheres, a situação piora pelo fato dos homens acharem que não são capazes de manobrá-las.

“A mulher sendo competente e sabendo se colocar não tem problema”

O machismo e preconceito enraizados na sociedade se refletem até mesmo no pensamento das próprias mulheres. Na internet, apesar de serem poucos, encontramos blogs de mulheres que trabalham embarcadas, dando conselhos e “ensinando como se comportar” para futuras pretendentes a colegas de trabalho.

As “orientações” vão desde como montar uma estrutura doméstica que permita se ausentar por 14 dias, afinal são as “responsáveis” com os cuidados com a casa, filhos e família, até como cuidar da aparência dentro da plataforma, como o uso de roupas largas, batom e perfume discretos; nada de saias, vestidos ou calça jeans que deixem as curvas do corpo visíveis; batom vermelho distrai os homens.

A vaidade maior tem que ser deixada para o dia do desembarque. Segundo as narrativas, se a mulher é uma pessoa comunicativa e sorridente, tem que tomar cuidado porque os homens poderão entender que ela está “dando mole”: “Mulher em um ambiente masculino e de confinamento é o centro das atenções. Isso mesmo, é observada quase que o tempo todo e o jeito como te observam vai depender exclusivamente do seu comportamento.” ( ht t p://d a n i n icol au .com . br/2018/03/08/como-ser-mulher- -na-plataforma-de-petroleo/)

Petrobrás deve respeitar o seu código de ética

Natália Russo, uma das diretoras que participa dos debates, salienta que a atual gestão do Sindicato defende a Petrobrás, mas do ponto de vista do trabalhador: um empregado desmotivado, fora de sua função, com uma ambiência baixa, não experimenta condições que contribuam para que a produtividade dessa pessoa gere benefícios para a companhia.

“Quando você isola a pessoa, afasta ela da equipe, cria uma falsa conclusão de que tem esvaziamento da função. É muito fácil, por conta do machismo da sociedade, falar que uma mulher não tem o perfil de área operacional, de ir para a área, de mover válvula. É só não envolver essas pessoas nessas atividades. Vemos vários gerentes distorcerem a realidade das que mulheres que têm um histórico de bom desempenho em área operacional, alegando que as mesmas não têm perfil adequado , porque mulher tem que trabalhar em escritório, tem mais perfil de planejamento, tem responsabilidade com filho pequeno, etc.

Quando cobramos sobre discriminação de gênero, cobramos que a Petrobrás zele pelo seu Código de Ética, que tenha uma postura mais educativa. Pode até não ser consciente por parte do gerente, coordenador ou supervisor, mas quando se esvazia a função de uma mulher que trabalha em área industrial, que é técnica operacional, colocando-a em um trabalho de secretaria, é óbvio que tem uma carga subjetiva pejorativa. Muitos homens não entendem o que é isso. A Petrobrás tem o selo de equidade de gênero, e nesse selo, uma das políticas da ONU, preconiza a promoção de lideranças femininas e uma política de equiparação de gênero que promova e capacite mais as mulheres para o efetivo mínimo feminino”.

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